domingo, 8 de junho de 2008

DISSERTAÇÃO

Dissertar não é, simplesmente, expor um assunto qualquer, mas levar seu interlocutor a uma tomada de decisão, ou seja, deve-se persuadi-lo a acreditar naquilo que se quer. É claro que, para isso, alguns aspectos são imprescindíveis.
Primeiramente, deve-se ter claro o assunto sobre o que se quer dissertar, a fim de que se possa, de forma objetiva, abordá-lo por meio de uma seqüência lógica, mas para isso é imprescindível não só apresentar opiniões positivas ou negativas, mas saber mesclá-las, para que se expresse imparcialidade (apesar de não haver texto imparcial!!).
Procurar, portanto, convencer nosso leitor, explicitando-lhe seu ponto de vista a respeito de um assunto, mas com isso se tende, muitas vezes, a ilustrar suas opiniões, seus conhecimentos, revelando, inclusive, sua intimidade. No entanto, à medida que se dominam as técnicas dissertativas, se põe de lado sua individualidade para propor, inclusive, temas que não nos dizem respeito, mas que, mediante nosso conhecimento prévio, podemos dissertar. Isso vale, inclusive, para temas com os quais não se concorda. Não resta dúvida de que, num trabalho incipiente como o de alunos do Ensino Médio, isso se torna difícil, principalmente porque, por não dominar as técnicas argumentativas, o jovem insista somente em demonstrar aquilo que sente.

Dessa forma, não se pode esquecer que é possível, por meio de um texto dissertativo, saber o que sentimos, em que pensamos e em que acreditamos, por isso o cuidado para não levar seu texto para o extremismo. É verdade que se tem liberdade para expor suas opiniões numa dissertação, porém tudo o que se apresenta de contraditório deve ser acompanhado de argumentações e provas fundamentais, sem o comum achismo (eu acho que...).
Para escrever um texto dissertativo, portanto, é imprescindível:
I. Dominar o assunto: daí a necessidade, quase que diária, de ler tudo o que tiver pela frente. Essa leitura, porém, não deve restringir-se somente à linguagem verbal, mas também à não verbal (fotos, cartazes, pinturas, músicas);
II. Sempre refletir sobre os acontecimentos que se põem diante de nós, buscando tomar partido, mas não se restringir ao discurso dos pais e dos amigos, mas a seu próprio: por que isso é assim e não daquela forma?
III. Acabar com a visão preconceituosa do mundo, aquela que nossos pais e amigos sempre nos passam, mas que nunca questionamos. O fato de chamar o Presidente Lula de analfabeto, por exemplo. Esse reducionismo não só empobrecerá seus textos, como também o ser humano que se pretende ser;
IV. Antes de escrever, é necessário pensar e planejar, sem ter receio de errar: é para isso que se faz, primeiramente, um rascunho: para se rabiscar, riscar todas as idéias que se possa jogar no papel, a fim de concatená-las de forma precisa no texto final;
V. Quando é fornecida uma coletânea de textos para uma leitura prévia (como no caso de muitos vestibulares), faz-se necessária uma leitura atenta e com a caneta, ou seja, deve-se ter como hábito a leitura com o destaque dos pontos mais importantes do texto para que sirvam de base para o nosso próprio texto, e para que não percamos tempo em busca daquilo que acabamos de ler (lembrem: o tempo não pára!);
VI. Valer-se sempre dos erros que se cometem: ninguém cai para trás, mas sempre para frente. Pegar uma redação, ver a nota e jogá-la fora, sem ao menos ter analisado os pontos levantados pelo professor, é uma grande ignorância, visto que esses dados são preciosos para que possamos crescer não só enquanto escritores, mas também enquanto leitores (e, muitas vezes, leitores críticos de nossos próprios textos!).

Diante do exposto no item VI, proponho, num primeiro momento, uma série de exercícios que compilei ao longo de alguns anos ministrando aulas de redação para que se possam conhecer as particularidades daquilo que se poderia chamar padrão dissertativo de linguagem. Esses exercícios são, na verdade, excertos extraídos de textos dissertativos de alunos que, devido a sua constância, até poderiam servir como paradigmas dos principais desvios encontrados nesse fazer redacional.
Num segundo momento, continuaremos este trabalho, estabelecendo técnicas simples para se escrever textos dissertativos, minimizando o lugar-comum que diz ser esse fazer de difícil execução. Na verdade, não se disserta, porque não se tem argumentos para isso, pois quando os há, meio caminho já foi trilhado.

© Prof. Antônio Jackson de Souza Brandão

P.S. Exercícios no site www.jackbran.pro.br

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