sábado, 28 de janeiro de 2012

O carneiro tristonho


O carneiro tristonho
no cercado
anda de um lado a outro
desolado.
Sozinho e um tanto
incomodado:
Para! Olha para lá:
cerca.
Olha para cá:
mato.
Conversa com as formigas,
Conversa com os tatus.
Desculpa-se do capim
e o come,
senão morre
de fome.
A garoa que cai,
e o carneiro que vai!
O morro que sobe,
à procura de um gole.
Sua cara preta
vê o horizonte:
Comendo e vendo...
A terra é marrom,
a lã é marrom,
Vai andando.
Na corrente que o prende
tropeça e cai como
indigente.
Levanta-se e cai,
A perna quebrou...
Mas vai,
Não se importou...
Berrou, berrou:
Ninguém se importou...
Chorou, chorou:
Ninguém o consolou...
E vai,
e foi...

São Paulo, maio/1992

© Antônio Jackson de Souza Brandão

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Coitá


As mãos ressequidas
Na cama estendidas
Esperam sofridas o fim
da labuta
Tão bruta que é.

O dia, a noite,
À tarde, na alvorada,
daqui pra lá,
De lá pra cá...
Vem e vão
a pé ou no
Caminhão.

No canavial sob o queimar
dos dias.
Nas mãos, as foices,
que derrubam como coices
para que elas fiquem
Estendidas...

Palavras não falam,
Não deixam, não podem,
pois
É cinquenta a tonelada,
Se disserem A é menos dinheiro,
Se BA é menos ainda,
Ademais...
Que sabem falar?
É fio, é fia, é pai,
É mãi, é tiu, é tia...

Há jovens,
há crinças,
há velhos...
De tanto foicear,
brincando de morte,
Os anos duplicam:
Se dez, parecem vinte,
Se vinte, trinta,
Se trinta,
Quarenta...

Açúcar, álcool, pinga...
Não conhecem açúcar,
Amarga é a sua vida!
O carro não aparece,
sequer nos sonhos,
álcool, lhes disseram, os carro
bebe...
Pinga? Quando dá,
Pra chorá as mágoa.
Namorá?
Não dá,
então dão e é coitá,
coitá e coitá,
pra logo mais os pequeno
trabaiá, trabaiá
e trabaiá...

São Paulo, 22/5/1991

© Antônio Jackson de Souza Brandão

domingo, 22 de janeiro de 2012

Sentimentos sentidos


Aqui na cabine
O tempo passando
As coisas aparecendo
O vento que sopra lá fora
De leste a oeste
A paz que não chega
E os homens que ainda se matam
Crianças que choram
E o vento que sopra
Aqui, silêncio e paz
Na cabine
O silêncio...
O tempo e o vento
E Érico Veríssimo
Aparece-me na mente.

São Paulo, 17/4/1991

© Antônio Jackson de Souza Brandão