quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Coitá


As mãos ressequidas
Na cama estendidas
Esperam sofridas o fim
da labuta
Tão bruta que é.

O dia, a noite,
À tarde, na alvorada,
daqui pra lá,
De lá pra cá...
Vem e vão
a pé ou no
Caminhão.

No canavial sob o queimar
dos dias.
Nas mãos, as foices,
que derrubam como coices
para que elas fiquem
Estendidas...

Palavras não falam,
Não deixam, não podem,
pois
É cinquenta a tonelada,
Se disserem A é menos dinheiro,
Se BA é menos ainda,
Ademais...
Que sabem falar?
É fio, é fia, é pai,
É mãi, é tiu, é tia...

Há jovens,
há crinças,
há velhos...
De tanto foicear,
brincando de morte,
Os anos duplicam:
Se dez, parecem vinte,
Se vinte, trinta,
Se trinta,
Quarenta...

Açúcar, álcool, pinga...
Não conhecem açúcar,
Amarga é a sua vida!
O carro não aparece,
sequer nos sonhos,
álcool, lhes disseram, os carro
bebe...
Pinga? Quando dá,
Pra chorá as mágoa.
Namorá?
Não dá,
então dão e é coitá,
coitá e coitá,
pra logo mais os pequeno
trabaiá, trabaiá
e trabaiá...

São Paulo, 22/5/1991

© Antônio Jackson de Souza Brandão

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