segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Gritos



Não posso abrir
Meus olhos...
Isso é um sonho ruim:
pessoas sós,
tristes e sem-ser...
Eles não têm mais cabelo,
Mas camisas e calças listradas
Sem moral
dignidade,
nada...

O céu já se foi;
duchas...
Gritos, dores e finalmente
tiros:
meu Deus, Tu nos esqueceste...

Atenção!
Vocês não têm permissão para chorar!
Calem a boca!
Caminhões chegam,
caminhões partem...
Aonde vão?
De onde vêm?

Mulheres fogem...
Bombas caem no chão,
as pombas não têm
mais pompa;
ninguém mais observa os montes...

Atenção! Atenção!

Homens morrem;
As chamas nos fornos
são muito altas!
os homens-fornos
ardem...

Rápido!
Mais rápido!

Atenção!

Duchen-se!
Para que se alegrar?

Liberdade... Que é isso?
Esperança... Onde está?

Não há mais nada,
nada mais...
só medo,
só medrosos,
medrosos repletos de medo...
São Paulo, 26/2/1993

© Antônio Jackson de S. Brandão

(Original em alemão)

Um comentário:

Flávia Rodrigues disse...

Gritos que ecoam até hoje e que passeiam na alma das pessoas sensíveis, que lembram com tristeza do grande holocausto durante a Segunda Guerra Mundial. O seu poema toca no fundo d'alma, Jackson! Beijos!

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