domingo, 9 de setembro de 2007

no es posible olvidar

no es posible olvidar
los niños en las calles
vacías de leche
calor y amor
que no intentan ser
buenos porque queremos que sean buenos

no es posible olvidar
los padres que se levantan
temprano para trabajar
en las minas que
no tienen más piedras
sueños los alimentan: no van a parar, viven de sueños

no es posible olvidar
las madres calleras
que buscan sus hijos
desaparecidos desde antes de ayer
ellos no volverán
lágrimas secas no las impiden de luchar por sus lágrimas

no es posible olvidar
el pasado presente ahora
cuando sabemos que el futuro
es incierto y la Tierra llora
por sus niños, sus madres en las calles y los padres soñadores…

© Antônio Jackson de Souza Brandão

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

labios de la aurora

pasados amores

presentes que se aferran
en mantenerse
ocultos dentro del pecho
por más que la hojas tengan
se caído de los árboles
que secos se llenan
y desnudos
recubren su frescor…
en los labios de la aurora miro
tus ojos
lucidos de pasión
que se derraman de irracionalidad
buscando el calor
de mis brazos
abiertos como
tus valles
recónditos

© Antônio Jackson de Souza Brandão

domingo, 2 de setembro de 2007

REPRESENTAÇÃO POÉTICA NA ARTE BARROCA



A poética do século XVII não deve ser entendida como uma poética de experiências pessoais no sentido contemporâneo, já que se baseia em formas, temas e conceitos preestabelecidos, mormente na filosofia e na retórica antigas. A literatura é, nesse momento, uma representação retoricamente codificada.

O eu lírico “individual” cede espaço a um eu lírico “coletivo”, seguindo os preceitos sociais vigentes; não há, portanto, plágio, nem apelo à originalidade − no sentido romântico −, nem empiria, visto que todos os preceitos já estão determinados na fonte retórica dos auctores que devem ser imitados, pois não são somente fontes de saber, mas um tesouro da ciência e da filosofia da vida[1]. Assim, o psicologismo , a força criadora da imaginação do artista − os gregos sequer conheciam tal conceito, nem possuíam palavras para exprimir essa idéia[2] − e sua genialidade individual era de somenos importância, pois o que importava era sua habilidade técnica − verossímil e retórica − no emprego das tópicas apropriadas. O poeta, por exemplo, busca a aemulatio, a superação operada tecnicamente, e é exatamente isso que o público, que também domina o sistema de prescrições do autor, espera encontrar: uma repetição, porém recontada de outra forma, pois é essa que lhe dará prazer.

As relações sociais são igualmente rígidas, não havendo o conceito contemporâneo de democracia, visto que tal sociedade está embasada nos privilégios e na demonstração de superioridade de um estamento sobre o outro. Assim, o tipo humano que melhor representa a racionalidade do momento é o discreto, ideal de excelência humana, cujos padrões eram o gênio, o engenho, a prudência, a agudeza, a dissimulação honesta, o conhecimento de retórica, da poesia, de história e filosofia antigas. Tais qualidades eram imprescindíveis para se empregar as técnicas do decoro, normas de conveniência social em que se discernia o que é melhor para cada momento, cada situação, seja em termos éticos, retóricos ou políticos. O decoro estabelecia aquilo que deveria ser “natural” − mesmo que, para o homem do século XXI pareça “artificial” −, e habitual, impondo limites para a criação artística. Assim, será considerado decoro, por exemplo, cada gênero ter seu próprio léxico. Mas quando as preceptivas dadas a determinado gênero não são empregadas seguindo tais normas, será indecoroso, como por exemplo, utilizar palavras obscenas no gênero trágico, o que não se aplica à comédia ou à farsa.

Vemos uma sociedade mecanicista, calcada numa disciplina e organização maior que a de outros períodos, apesar de seu aparente aspecto de desordem[3]. Para todos os momentos da vida, haverá sempre uma resposta com cada um sabendo exatamente qual é o seu papel no palco do mundo. A tópica do ‘grande teatro do mundo’ converte-se em um instrumento imobilista da maior eficácia”[4], por isso todo comportamento barroco tende a ser uma moral da acomodação[5], já que os poderes sociais servem-se dela para montar mecanismos de contenção e coerção sociais[6].



A verossimilhança, a partir dessa preceptiva, consistirá em representar aquilo que se acredita verdadeiro, segundo as determinações sociais do período, reproduzindo, na estrutura das obras, as motivações, explicações e prescrições próprias do gênero na qual está inserida, valendo-se do estilo e do léxico apropriados: ultrapassa-se aqui a verdade factual e adentra-se a contratual e a social.

Para que isso seja possível, é mister a utilização do engenho, força do intelecto que compreende dois talentos: perspicácia dialética e versatilidade retórica. Aquela penetra nas mais distantes e diminutas circunstâncias de cada assunto, esta confronta rapidamente todas essas circunstâncias entre si, ou com o assunto. O resultado desse trabalho intelectual é a agudeza, “modelo cultural de uma memória social de usos dos signos partilhada coletivamente”[7], que definirá a hierarquização de uma retórica comportamental, bem como o esquema ordenador das práticas da representação do século XVII, seja nos livros de emblemas, de empresas, nas preceptivas retórico-poéticas, na poesia e na pintura, ou na codificação dos gêneros e estilos a que cada um pertence, adequando-os à grande variedade de tópicas, situações e comportamentos.

Nota-se que a Retórica aristotélica − a “arte de falar”, de construir o discurso artisticamente − terá um papel importante na vida do homem seiscentista, exatamente porque é uma arte de persuasão, exige técnica, método e conhecimento do público a quem o discurso destina-se. Para Aristóteles − que quis provar com sua obra que as rejeições de Platão à retórica eram infundadas, já que este a havia repudiado, como o fizera com a poética[8] − “a educação retórica, combinada com o ensino da lógica e da dialética, devia capacitar o discípulo a influenciar os ouvintes. E, dado o caso, também ‘tornar mais forte a causa mais fraca’”.[9] Para que isso fosse possível, trata em sua Retórica dos apotegmas dos auctores, em cujos poemas havia centenas de milhares de versos que condensavam experiências psicológicas e regras de vida[10], largamente utilizados pelos teóricos e poetas barrocos.

Além de Aristóteles, Quintiliano terá grande influência no século XVII e sua obra Institutio oratoria (95 A.D.), com doze volumes, considerada uma das melhores obras que nos legou a Antigüidade, é um tratado sobre a educação do homem. Para Quintiliano, “o homem ideal só pode ser orador, pois só a ele concedeu o Deus supremo e formador dos mundos o privilégio da fala”. Dessa forma, a oratória está muito acima da astronomia, da matemática e de outras ciências[11], logo deve-se dar importância aos auctores e a seus apotegmas, chamados por ele de sentenças, que deviam ser “versos mnemônicos”: para serem guardados de cor, colecionados e dispostos em ordem alfabética para facilmente serem consultados[12] e empregados.

A retórica terá uma grande abrangência no século XVII e dela fará grande utilização o artista, já que toda representação, codificada retoricamente, implicará seu profundo conhecimento, pois a arte do período será puramente mimética e sistêmica. Conheciam-se não só todas as cinco partes da retórica[13], como as situações em que deveriam ser empregadas seus argumentos. Esses eram chamados de topoi − tópicas − ­ em grego, e loci communes − lugar-comum − em latim. Empregavam-se, originalmente, na elaboração de discursos, entretanto “a poesia também impregnou-se de espírito retórico. A retórica perdeu, destarte, seu sentido primordial, sua razão de ser. Por outro lado, penetrou em todos os gêneros literários. (...) Assumem os topoi uma nova função: transformam-se em clichês de emprego universal na literatura e espalham-se por todos os terrenos da vida literária.”[14]

O período também estará impregnado do elemento sacro. A divindade estará presente em tudo e em todas as relações, o que se evidencia na leitura que os artistas da época fazem da natureza: nela tudo tem um significado, até mesmo no ato de proclamar sermões, Deus se faz presente nas palavras proferidas; som e conceito estão intrinsecamente unidos, daí crer-se no esconjuro e na maldição. Temos uma interpretação teológica do mundo e esse é a própria representação do divino: tudo na natureza tem um significado e o significado das coisas não só é a Palavra de Deus[15] como as coisas são portadoras dela.[16]

A Sagrada Escritura − que terá grande influência no período − possui um senso espiritual e místico − sensus espiritualis e mysticus −, diferente da literatura profana com seu sensus litteralis. Dessa forma, aquela com seu sentido alegórico ensina o significado da história da salvação à alma cristã e esta nos dá o fato.[18] A alegoria que transmite o sacro deve ser, forçosamente, complexa e obscura, porque se consolida em complexos verbais que têm de ser imutáveis; dessa forma, para o homem do século XVII, a escrita alfabética teria menos condição de expressar o divino ao contrário dos hieróglifos.[19] Assim, “o desejo de assegurar o caráter sagrado da escrita − o conflito entre a validade sagrada e a inteligibilidade profana está sempre presente − impele essa escrita a complexos sinais, a hieróglifos. É o que se passa com o Barroco. Externamente e estilisticamente − na contundência das formas tipográficas como no exagero das metáforas − a palavra escrita tende à expressão visual.”[20] A alegoria será então “o esforço científico para o conhecimento da Palavra de Deus e portanto a base da Teologia,”[21] que permeará todas as relações do período, pois ela mesma, “embora uma convenção como qualquer escrita, era vista como criada, da mesma forma que a escrita sagrada”.[22]

© Prof. Antônio Jackson de Souza Brandão

[1] Cf.: CURTIUS, Ernst Robert. p. 95.

[2] Id ibidem. p. 485

[3] Cf.: MARAVALL, José Antonio. p. 126.

[4] Id. ibidem. p. 255.

[5] Cf.: id. ibidem. p. 259.

[6] Cf.: id. ibidem.p. 273.

[7] HANSEN, João Adolfo.

[8] Cf.: CURTIUS, Ernst Robert. p. 103.

[9] Cf.: id. ibidem. p. 102.

[10] Cf.: id. Ibidem. p. 95.

[11] Cf.: id. ibidem. p. 104.

[12]Cf.: id. Ibidem. p. 95.

[13] Como arte (ars), a retórica compreende cinco partes: inventio, dispositio, elocutio, memoria, actio; e formam o objeto da retórica (materia artis) três gêneros de eloqüência: o discurso forense (genus iudiciale), o discurso deliberativo (genus deliberativum) e o discurso laudatório ou solene (genus demonstrativum). Havia, entretanto, outros gêneros: o epitalâmio, a oração fúnebre, o discurso de aniversário, o de consolação, o de saudação, o de felicitação, entre outros.

[14] CURTIUS, Ernst Robert. Op. cit p. 109.

[15] Cf.: JÖNS, Walter Dietrich. p. 31.

[16] Cf.: id ibidem. p. 32.

[18] Cf.: id ibidem. p. 30.

[19] Cf.: BENJAMIM, Walter. p. 197.

[20] Id ibidem, pp. 197-198.

[21] JÖNS, Walter Dietrich. p. 31

[22] BENJAMIM, Walter. p. 197.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Lágrimas da Pátria - Ano 1636

Inteiros ainda estamos, no entanto roídos!
Da gente insolente a trombeta arrebatada,
O canhão estridente, a espada ensangüentada;
O esforço e o estoque e o suor foram destruídos!

As torres flamejam; os templos revolvidos;
A prefeitura, pó; as forças lancinadas;
E para onde olharmos há virgens violentadas,
Fogo, peste, morte, coração e alma partidos.

Sempre aqui escorre sangue entre o fosso e a cidade.
Três vezes seis anos: nossos rios com esforço,
Obstruídos de corpos lentos escorriam...

Porém silencio: foi pois pior que a morte,
Que a ferocidade do fogo, fome e peste
E até o tesouro espiritual extorquiram.

Andreas Gryphius,Trad. Antônio Jackson de Souza Brandão

segunda-feira, 2 de julho de 2007

No podemos sacar la vida de los otros

La vida no pasa de polvo en las manos vanas de personas que se olvidaron que son humanos también...
Tenemos que luchar.
Sí, queremos cambiar la cosas, lo mundo, los mundos opresores, pero cuál es el precio de esa revolución? Y ¿dónde están las rosas de los revolucionarios, aquélla misma que le sacamos de los jardines ajenos?
Lanzaron fuera, en las calles del olvido...
Tenemos que cambiar el mundo, y el mundo son las personas, por eso el desprecio no cambia nada...
Sí, el poder nunca nos escucha: tenemos que gritar más alto que ellos, caminando por las calles, rellenándolas de voces que griten más alto que los sordos de corbatas, los mismos que vienen con mimos para los electores prometiéndoles todo, pero sacando hasta los sueños....
Pero, ¿sacar a las personas?
No, no podemos ser semejantes a ellos… no, semejantes no, peor que ellos: no se pueden sacar los sueños, las esperanzas, la vidas de los otros…

Antônio Jackson S. Brandão
02/07/2007

terça-feira, 1 de maio de 2007

Temos de ser incendiários!

Resposta a uma pessoa que se sente perseguida em sua comunidade por suas idéias "incendiárias" (publicada, originalmente, na comunidade Teologia da Libertação, no orkut www.orkut.com/Community.aspx?cmm=258351)

Muitas vezes nos esquecemos de que a humildade cristã não é mera passividade diante dos obstáculos os quais encontramos diante de nós, muito pelo contrário, é exatamente por meio dessas provações/provocações que temos a certeza de estarmos trilhando o caminho correto, afinal, o Mestre mesmo disse que, se quiséssemos segui-lo, teríamos de levar nossa própria cruz. Infelizmente, nos esquecemos de que não é só de alegria (pelo menos na visão deste nosso mundo consumista e maquiado!) e "pseudo paz" que vivemos, afinal o mundo quer nos destruir: não somos deste mundo! O caminho é esse mesmo Dorothy: não devemos ser sal e luz do mundo? A luz o que faz além de clarear, não incendeia também? Sim, temos de ser incendiários! Imaginemos Cristo diante dos fariseus: incendiou-lhes o ódio, enquanto incendiou de amor os corações daquelas pessoas humildes que O seguiam... Vemos, portanto, que a diferença não está na chama, mas naqueles que a recebem... Paz e Bem, Jack

sábado, 21 de abril de 2007

Paranóia

Solitários
Neuróticos buscam
Ajuda todos os dias,
mas ninguém lhes dá ouvidos até que
sua paranóia chega ao limite:
Aplicação de ódio
Ninguém vale nada
© Antônio Jackson de S. Brandão

Paranoia

Solitarios
Neuróticos buscan
Ayuda todos los días,
Pero nadie les da oído hasta que
Su paranoia llega al límite:
Explotación de odio
Nadie vale nada
© Antônio Jackson de S. Brandão

sábado, 10 de março de 2007

Miséria humana

Enfim o que somos? Uma angústia de dor,
Uma pseudo-feliz dança e um fogo-fátuo ebóreo,
Uma neve quase-fundida e um ermo flóreo,
De apreensão um palco e extinta uma vela a cor.

A vida se esvai tal conversas e rubor
E expulsa-nos desta vacilante veste óssea:
Há muito lançada no registro marmóreo
Da hecatombe, sem sentido esquecida e cor;

Assim como um sonho em vão desmoronando
Ou uma enxurrada sem obstáculo avançando
Assim nossa fama e honra e glória findará.

Num momento respirando, mas vem a nova:
Que nos sucede então? Nos lança a morte à cova
Assim como o vento a fumaça levará.

Andreas Gryphius, Trad. Antônio Jackson de S. Brandão

sexta-feira, 9 de março de 2007

relámpagos


relámpagos crean el cielo
oscuro de la noche
en un claro día
de nuevas esperanzas…
¡qué lástima!
es tan rápido como un
pensamiento suelto en el aire
de las oficinas
quizás fueran dos segunditos más
un orgasmo prolongado
¡qué mierda!
morir borracho de luz

© Antônio Jackson de S. Brandão

segunda-feira, 5 de março de 2007

O papel do professor em nossos dias

Muitos professores esquecem-se de uma das grandes verdades universais: a mutabilidade da vida e do tempo e, ao ignorar esses aspectos, mantêm o mesmo discurso por anos.

É inconteste que há hoje uma mudança estrutural na sociedade. Essa não se restringe somente a avanços técnicos, mas também a mudanças de valores morais e objetivos pessoais.

Há alguns anos era necessária, para a ascensão social, a universidade, principalmente para as classes menos abastadas que, por sorte, conseguiam chegar a seus degraus. Além disso, a figura do professor era a da suma sabedoria, o detentor do poder de um futuro promissor, ou do fracasso social.

No entanto, com a dinamização da sociedade, com a obrigação da manutenção da criança na escola, o acesso ao saber em casa e “on-line”, com a proibição sistemática de o jovem trabalhar, a situação inverte-se e resta ao professor o papel de orientar.

De “pseudo-protagonista”, o professor passa a ser mero coadjuvante. Dessa forma, tem de conquistar a amizade e o respeito do aluno para que possa, com ele, interagir mesmo que para isso tenha de mostrar-se não como um ser “acabado”, “estanque”, mas em contínuo aprendizado e disposto a trocas, afinal não se vive mais numa sociedade inerte, mas em uma em constante ebulição.

Se antes, o jovem rebelde era aquele que fumava escondido no banheiro, fingia que não ouvia o professor ou mesmo que deste caçoava escondido; hoje, o estudante o enfrenta. O cigarro cedeu lugar às drogas, há outros que têm o prazer de mostrar que podem saber mais do que o professor, afinal o conhecimento está aberto a todos via internet.

Portanto, deve-se cativar a amizade do aluno e, naturalmente, conquistar sua simpatia, afinal por mais que ele busque conhecimento extra escola (quando o faz!), faltar-lhe-á a vivência e o aprendizado que só os anos nos conferem, só por isso a figura do professor já bastaria, afinal ele também passará, mas sua imagem, seu empenho e sua orientação perduram, mesmo que não colhamos esses frutos.

Prof. Dr. Antônio Jackson de Souza Brandão